ESTREIA DIA 20 DE ABRIL "...absolutamente a não perder" julio stockwell in advanced performance

r. das taipas VI

O CONVITE À VIAGEM

Há um país soberbo, um país de Cocanha, digamos que eu sonho visitar com uma velha amiga. País singular, naufragado nas brumas do nosso Norte, e em que poderia chamar a oriente do Ocidente, a China da Europa, tantas largas ali se deu a uma fantasia ardente e caprichosa, tanto a ilustrou, paciente e obstinadamente, com as suas sábias e delicadas vegetações.

Um verdadeiro país de Cocanha, onde tudo é belo, rico tranquilo, honesto; onde o luxo sente prazer em se remirar na ordem; onde a vida é gorda e doce de respirar; onde a desordem, a turbulência e o imprevisto são excluídos; onde a felicidade é casada com o silêncio; onde a própria cozinha é poética, ao mesmo tempo gorda e excitante ( … )

Charles Baudelaire, in O Spleen de Paris

CUCAÑA (1). (No confundir com Cucaña (2).) Pequeño país cerca de Alemania al que, segúm algunos viajeros, se puede acceder por un rio, En el centro de la región se yergue el Mecca, un volcán de caldo hierviente. De sus entrañas expulsa raviolis y otras pastas que caen rodando por sus laderas cubiertas con queso y van a dar a un valle de mantequilla derretida que corre a sus pies. El viajero que visite Cucaña verá monos que juegan al ajadrez, la família real que duerme tres años seguidos en su lecho de salchichas, faisanes asados que se ponen a correr al son de las trompetas y capones que lluven del cielo. El suelo da trufas grandes como casas y los rios son de leche o vino. En invierno, las montañas se cubrem de queso cremoso y durante todo el año deliciosos pasteles redondos brotan a la vera de los caminos. Las casas están hechas de toda clase de comida italiana y los puentes son enormes salchichones. Los carruajes circulan solos, no necesitan caballos. Los arboles dan grandes cantidades de fruta.

El que desee rejuvenecer podrá bañarse en las aguas de una pequeña fuente que hallará a su disposición. Las mujeres dan a luz cantando y los recién nacidos hablan y caminan antes de nacer. Allí, el que más duerme más gana. Al que sorprenden trabajando lo mandan inmediatamente a prisón.

(Anónimo, Capitolo di Cuccagna, siglo XVI; Anónimo, Storia del campriano contadino, siglo XVII; Anónimo, Trionfo dei poltroni, siglo XVIII)

CUCAÑA (2). País que no figura en ningún mapa y se confunde a veces com Cucaña (1) y Biengoces. (…) Sus habitantes gozan de uma espécie de inmortalidad porque no conocem las guerras, y cada vez que cumplen cincuenta años vuelven a tener diez. (…)

(Anónimo, Le Dit de Cocagne, siglo XIII; Marc-Antoine Le Grand, Le Roi de Cocagne, Paris, 1719


r. das taipas V

ruby. segundo trabalho no cão. dog culture consultant.

(…) Todo o sono é a imobilidade de um movimento. Pois não existe estado nenhum, situação nenhuma na vida humana, de completa imobilidade. A vida no seu estado elementar, no seu limite com a não vida, é tensão, esboço de movimento, predisposição para um movimento ou movimento reprimido, aprisionado. E os sonhos nascem desta impossibilidade, desta absoluta quietude no necessário repouso. Vida primitiva, por isso, primária, vida rebelde e em rebelião que é reiterada pelo ímpeto primeiro de atravessar o que se lhe opõe. Por isso o sonho tem carácter, por mais quieto e aprazível que seja o seu conteúdo, pelo que a vida tem na sua origem primeira de luta obscura, de quase delito, de perturbação da ordem estabelecida.

Entre o contínuo que serve de fundo ao ser que dorme, à vida que se detém para prosseguir, e a atemporalidade, nascem os sonhos, esta pseudovida ou vida primeira, manchada na sua origem por ter de abrir caminho, por não ser dada num meio inteiramente apto para a receber. Uma vida que procura o seu lugar, que desce. Pois é a vida de alguém que a deixa cair, que cai ele próprio.

Aquele que entra no sonho desprende-se de si mesmo, desprende-se da sua vida e fica a flutuar (…)

Maria Zambrano, in Os Sonhos e o Tempo

Sono : inconsciência geral.

Sonho : consciência parcial fragmentária, e intermitente dos membros, dos orgãos internos ou da pele.

Sonho : Um grande pedaço de homem que dorme e um pequeno pedaço que está acordado.

A perna é inteligente. Todas as coisas o são. Mas não reflecte como um homem. Reflecte como uma perna.

A perna não é estúpida, não caminhará sobre óleo ou bolas de sabão, não tentará fazer renda.

Lógica da perna.

Mas a perna despir-se-á no meio dos senadores, ou numa conferência de suffragettes, ou em propriedade privada. O público, a paisagem não interessam à perna; não lhe dizem respeito.

A lógica de um pedaço de homem é o absurdo para o homem total.

Carácter do sonho : o sonho é absurdo.

A perna é sensível.

Não tem emoções de homem. Tem emoções de perna.

A amizade, a contemplação? Não lhe dizem respeito.

As imprecações da Bíblia? Uma tela de Degas? Digo que a perna passará ao largo.

Mas eis um pijama, areia fina. Ah! Ou espinhos que magoam!

Emoção da perna.

A emoção de um pedaço de homem é indiferença e frieza para o homem total.

Carácter do sonho : Insensibilidade! Desafectividade.

(...)

H. Michaux


r. das taipas IV

O ESTRANJEIRO

- De quem gostas mais, diz lá, homem enigmático? De teu pai, de tua mãe, de tua irmã, ou de teu irmão ?

- Não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.

- Dos teus amigos ?

- Eix uma expressão que até hoje ignorei.

- Da tua Pátria ?

- Não sei a latitude em que está situada.

- Da beleza ?

- Amá-la-ia de boa vontade, divina e imortal.

- Do Ouro ?

- Odeio-o tanto como vós a Deus.

- Então que amas tu singular estrangeiro ?

- Amo as nuvens … as nuvens que passam … lá longe … as maravilhosas nuvens !

Charles Baudelaire, in O Spleen de Paris




Nubes, Monte de las. Monte situado en una región distante seis meses de navegación desde Basora, en Irak, probablemente a orillas del Índico. Sería conveniente que el viajero se dejara acompañar por algún mago persa entendido en alquimia, pues estas personas son las únicas que se orientan con facilidad hasta el Monte de las Nubes. Recomendamos, no obstante, mucha prudencia, pues tienen asimismo la costumbre de sacrificar a sus acompañantes en sus experimentos alquímicos. (….)

Ya en tierra firme, el viajero dejará solo al mago al pie de la montaña. Entonces, una nube de polvo se levantará del suelo y, poco a poco, adoptará la forma de tres hermosos camellos, en uno de los cuales montará el viajero. Siete días más tarde, llegará a un edificio que semeja una cúpula, apoyado sobre cuatro columnas de oro rojo, y a un palacio grande y magnífico habitado por las hijas de un rey. Estas doncellas harán lo posible para que el viajero olvide su destino, pero si prosigue verá, al fin, una multitud de nubes diseminarse de este a oeste: está es la montaña que el viajero busca.

Sólo hay una manera de subir al Monte de las Nubes : el viajero matará uno de los camellos, lo desollará, se meterá dentro de la piel y luego la coserá con cuidado y aguardará a que venga un buitre, lo agarre e se lo lleve. El ave depositará la piel de camello en cima de la montaña; el viajero, entonces, habrá de salir de su envoltorio, dará gritos para espantar al buitre (es necesario ensayar antes los gritos) y podrá explorar la montaña a su gusto. ( … )

(Anónimo, Las mil e una noches, siglos XIV – XVI)




r. das taipas III


(…) Todo o sonho é uma viagem. E por isso paramos neles como numa cidade ou lugar estranho onde nada podemos fazer. Todo o sonho nos deixa como costumamos ficar num lugar desconhecido onde chegámos por engano. Nesse sentido, diria que todo o sonho, por mais agradável e venturoso que seja, aparece como um engano, melhor como um acaso; apresenta-se como um acaso, algo a que chegámos por sorte ou por infelicidade, sem saber, sem fazer caminho.

(…) Os sonhos acontecem-nos. Falta o ir, o caminho (…) e por isso é uma viagem e um feitiço. Um estar enfeitiçado.

(…)

Mas todo o sonho é também uma viagem encantada. Viagem porque há neles um movimento que, no entanto, não impede o facto de não haver caminho. Um movimentar-se sem caminho é um errar, um andar errante. E assim, aquele que anda errante encontra-se de repente perante algo estranho. Estranho mesmo sendo conhecido e até familiar.(…)

r. das taipas II


PAISALQUENUNCALLEGAS. Pequeño país de localización desconocida y rodeado de un bosque immenso. Una extraña pradera conduce a un claro donde hay algunos robles, castanõs y palmeras. A los lejos se distinguem el mar azul y unhuerto de manzanos que crece en una franja de tierra negra. Un arroyuelo atraviesa el país y desemboca en el mar. Al norte, en una pequeña bahía colmada de nenúfares y lotos, rodeado de cocoteros y naranjos, se yergue un castillo enorme. Al otro lado hay una aldea, desde donde se puede ver en toda su extensión el Paisaquenuncallegas. Lo cierto es que es imposible visitarlo, pêro a veces uno puede contemplarlo a través del recuerdo de algún objeto querido : un libro de la infância, unas flores secas dentro de un diário íntimo o una rama de manzano entrevista trás las cortinas del dormitório de outra persona.

(André Dhôtel, Les Pays où l’on n’arrive jamais, Paris, 1955) – in Breve guia de lugares imaginários de Alberto Manguel e Gianni Guadalupi